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Rizzih - Gula (Bento Nascimento) lyrics

Artist: Rizzih

album: Poema Suspenso


Você me olhar por entre a cortina
E fica intrigado com a minha falta de apetite
Tem pena porque eu não como nada
E nem bebo bebidas de mil cores
Você não entende por que de vez em quando
Eu como uma pêra pra não morrer?
Ah, se você soubesse o motivo de tamanho jejum
Se coubesse dentro das tripas o paladar
O paladar que quero das coisas
Se entendesse o que nutre a minha vida
Você ficaria de boca aberta
Se soubesse da água que dá na minha boca
Quando vejo os momentos gostosos
E não me deixam abocanhá-los
Eu tenho fome sim!
É a maior de todas
Minha fome é voraz
De comer mundos e mundos
Não como, como vê
Mas se eu começasse a comer
Começaria te comendo
E te comeria todo
Comeria as pessoas com suas bundas e seus corações
Com seus seios e sapatos e mais
As fivelas lustrosas que elas deixaram de usar
Eu comeria com prazer, babando pelos cantos da boca
Minha mãe e meu pai
Meus irmãos e minha avó
Lamberia as pedras
Sugaria as folhas
Mastigaria as vidraças, os bustos das praças
Atacaria supermercados e
E comeria todas as ameixas pretas
E devoraria também todos os almanaques
Nas bancas de gibis
É uma solitária imensa que existe dentro de mim
E cresceu comigo essa solidão
E por todos esses anos desenvolveu-se em mim o gosto por tudo
Comer crianças e comer cavalos
Comer rolhas e fezes e me embriagar em canaviais
Então saquearia festas pra comer croquetes e chupar aniversariantes
Lamber beirados, as sobras e beber dúzias de mil doses
De dia comeria as balconistas e as empregadas
E de noite comeria bêbados e prostitutas
E comeria terra, húmus, umidade, malária, aranhas e a fruta temporã
E comeria flores, rãs e crisálidas
Ainda nada me saciaria
Nem bem comeria as batatas
Já desejava comer Marina
E pensando em comer Marina
Já desejava saudade e mais
Mastigar espinhos, triturar verdades, devorar cantigas
Digerir abóboras e sempre comer mais
Comer moinhos de vento, comer montanhas
Cidades, peixes, rios, mistérios
Sonhos e naves
Ah
A minha gula é sem fim
É uma fome enorme de vida
De provar toas as coisas, todas
Comer nuvens e comer barro
E é tanta fome de vida
Que eu engoliria a morte
Pra provar o sabor da eternidade
Bento Nascimento

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