Luz, câmera e ação, hoje o suspense é de drama Beijei na boca do pecado e resolvi levar pra cama Tive duas filhas, luxuria e ira Uma destrava o revólver e a outra grita: Atira! Eu sei lá o que é sucesso, eu sei lá o que é fracasso Meu coração fez eu desfibrilar o marcapasso A cara é de pau, mas meu peito não é de aço Já tropecei na vida e resolvi tirar o cadarço O tempo comeu minha sola e hoje em dia corro descalço Guardei boas memórias num baú com fundo falso A noite é uma criança de castigo na escola Na estrada do tempo eu capotei no quebra-mola Abençoados sejam os esquecidos Fomos pro quinto dos infernos, eu e o meu sexto sentido Depois de sete dias de lá eu fui banido Volto como o oitavo anjo, o iluminado, o escolhido Nascido no subúrbio nos melhores dias Com votos da família, de vida feliz Brincando na rua de amarelinha O céu que eu via era apenas o de giz Nascido no subúrbio nos melhores dias Com votos da família, de vida feliz Brincando na rua de amarelinha O céu que eu via era apenas o de giz E assim crescendo eu fui me criando sozinho, véi' Aprendendo na rua, na escola e no lar Um dia me tornei o bambambã da esquina Em toda brincadeira briga até namorar Até um dia eu tive que largar o estudo Sair rimando pelas ruas pra ver se Deus tava lá Assim sem perceber, eu era adulto Já tive amor com o jogo e sorte no azar S'il vous plaît ne me quittez pas Mais uma dose, por que a gente é assim? Quando eu partir sei que o sol vai lembrar de mim Na mesa da minha alma deuses jogam dominó Escrevo com a pena da fênix pra não voltar ao pó Vendendo minhas angústias no outdoor Deixo pegadas onde piso porque é de sangue o meu suor Novas cicatrizes de velhas esperanças Meu coração é um cortiço velho com um inquilino de mudança Furei o pneu da ambulância depois que eu levantei do coma Atrás das cortinas é a onde o palhaço chora e rasga a lona Botei minha cara a tapa, aproveitaram e deram soco Com a porra do mundo maluco, me diga, como não ser louco? Avisa o venha nós que o vosso reino pegou fogo Taco fogo em Roma, incinero e ensino a Nero como joga o jogo Sem coletes salva-vidas eu nadei na correnteza das minhas lágrimas No livro do naufrágio tem minha letra em todas as páginas Alguém me empresta uma tesoura Para eu cortar o nó da minha garganta Eu sou um filha da puta E olha que minha mãe é uma santa Sempre sonhei com a nota dez, veja os calos dos meus pés Por aqui as estradas são cruéis Não fui um bom garoto e, por mais um ano, Papai Noel não veio Trancaram-se as chaminés E lá vai eu mais uma vez de castigo no recreio Nem ler eu sabia e já entendia o livro do patinho feio A solidão é a sorte dos espíritos excepcionais Eu que vou estar na primeira fileira Quando o meu filme entrar em cartaz Mais uma dose, por que que a gente é assim? Quando eu partir, eu sei que o sol vai lembrar de mim