Eu dei meu primeiro berro Num fundão de campo aberto Desmamado em tempo certo Me criei de pelo fino Arisco, meio chatinho De um rincão indo pra o outro Comendo cupim de touro E sovando lombo de potro E foi lá nos pagos de Soledade, tchê! Sou cria da natureza Primo da água e do vento Eu fui parido ao relento Que nem broto de pau-ferro Na madrugada, dou um berro Que, lá no capão, ressoa Acordando a sapaiada Nas barrancas da lagoa E é de levantar serração! Moro no garrão do serro Onde berra o Boitatá Meu vizinho é um tamanduá E a furna é no pé de aroeira Nas noites de sexta-feira De longe, ouve a gasnada Um lobisomem aparece Vem pelear com a cachorrada E eu fico só apreciando a peleja! Quando me vou prum surungo Com a água à meia costela Volteio igual cascavel Bato os dentes igual capincho Esgancho as venta num guincho Vou farejando namoro Aonde eu danço de espora Fica igual cova de touro E eu já gastei muito salto de bota Por esse mundão afora! Vim no mundo por acaso E, por acaso, me vou E o meu pai me ensinou Que eu não perdesse meu tempo Não vou dar tempo ao tempo Que o meu tempo passará Passando sei que não chego Aonde eu quero chegar Mas essa vida véia é pra lá de boa, tchê!