Fui criado na campanha Em rancho de barro e capim Por isso é que eu canto assim Pra relembrar meu passado Eu me criei arremendado Dormindo pelos galpão Perto de um fogo de chão Com os cabelo enfumaçado Quando rompe a estrela D'alva Aquento a chaleira Já quase no clarear o dia Meu pingo de arreio Relincha na estrevaria Enquanto uma saracura Vai cantando empulerada Escuto o grito do sorro E lá no piquete Relincha o potro tordilho Na boca da noite Me aparece um zorrilho Vem mijar perto de casa Pra inticar com a cachorrada ♪ Numa cama de pelego Me acordo de madrugada Escuto uma mão pelada Acoando no banhadal Eu me criei xucro e bagual Honrando o sistema antigo Comendo feijão mexido Com pouca graxa e sem sal Quando rompe a estrela D'alva Aquento a chaleira Já quase no clarear o dia Meu pingo de arreio Relincha na estrevaria Enquanto uma saracura Vai cantando empulerada Escuto o grito do sorro E lá no piquete Relincha o potro tordilho Na boca da noite Me aparece um zorrilho Vem mijar perto de casa Pra inticar com a guaipecada ♪ Tô formando um alambrado Na beira de um corredor No cabo de um socador Quas mão rodeada de calo No meu mango eu dou de estalo E sigo a minha campeirada E uma perdiz ressabiada Voa e me espanta o cavalo Quando rompe e estrela D'alva Aquento a chaleira Já quase no clarear o dia Meu pingo de arreio Relincha na estrevaria Enquanto uma saracura Vai cantando empulerada Escuto o grito do sorro E lá no piquete Relincha o potro tordilho Na boca da noite Me aparece um zorrilho Vem mijar perto de casa Pra inticar com a cachorrada ♪ Meu trabalho é de peão campeiro Conforme diz meus documentos Sigo sem afrouxar nenhum tento De campanha, crioulo e fronteiro Mas eu trago outro ofício no mundo Que esses fundos já sabem qual é Cantar baile nos ranchos de campo Bom Retiro, Azevedo e Sodré Bendição que eu carrego comigo Ser um peão cantador de campanha Com o gaiteiro eu me entendo por sanha Pra pobreza eu até já nem ligo Me chamaram pra sábado agora Cantar um baile na costa do Areal Eu não tenho no bolso um Real Mas eu sou o cantador dessa gente de fora Chão batido de saibro vermelho Meia água de quatro por cinco Vou mirando os buracos do zinco E cantando ao clarão do cruzeiro ♪ Violeiro mandando laçassos de dedos Um ronco de gaita, chinelo a bailar Tinindo pandeiro apeei do cavalo Troteando no embalo de quem quer dançar Cheguei bem louco, guaiaca recheada Virar madrugada é minha vocação Vou me espalhando no meio da sala Com a china mais linda lá do meu rincão Pra já começo o namoro no bailado da vanera Aquela noite grongueira mel de amor no coração Num canto velho um lampião dando brilho pra beleza E a vanera da certeza, tem casório no galpão Pra já já começo o namoro no bailado da vanera Aquela noite grongueira mel de amor no coração Num canto velho um lampião dando brilho pra beleza E a vanera da certeza, tem casório no galpão Fui criado tipo bicho Grudado igual carrapicho em china, canha e vanera Sou de lombo de cavalo Sou cuiudo e não me calo pra borracho bagaceira Mas se a china dá carinho, de xucro fico mansinho Já carrego pro meu rancho Nos meus braços eu engancho e não vou dormir sozinho Fui criado tipo bicho Grudado igual carrapicho em china, canha e vanera Sou de lombo de cavalo Sou cuiudo e não me calo pra borracho bagaceira Mas se a china dá carinho, de xucro fico mansinho Já carrego pro meu rancho Nos meus braços eu engancho e não vou dormir sozinho ♪ Templada a cinza e a fumaça nos fogões de acampamento Quebrava queixo de potro e um chapéu de contra o vento Enraizado no pasto dali eu tiro o sustento O canto me deu a alma razão vida e sentimento O Rio Grande me criou é o meu mundo é meu destino Por isso razões me sobram pra o meu viver campesino Sobre o lombo de um cavalo de menino me criei Coração sempre campeiro desse jeito morrerei