Sei que é um dia de cada vez Mas as horas passam tão rápido Troco de pele, mas mantenho Os fantasmas no armário Te entrego palavras ao invés de flores Depois te fotografo E eu sei que sentirei... saudades Mas eu sei que e um dia de cada vez Boca a boca roubo teu folego Mira em mim Olhos de ressaca De cigana oblíqua e dissimulada Cheiro de garoa Crinas de areia e sal Sabor de sonho Mas fui ao labirinto com os demônios Quando vi no limbo nasceu uma flor Cuspa os ratos do estômago Encontre a cabeça pelo comodo Destaco-me na multidão E é como se não houvesse casa Me verás aos berros Arrancando cabelos mas mudo não Em punhos a espada Coração inquieto, queixo erguido Troveja e do céu cai brasas Mas do meu peito é a tempestade Já estou acostumado Se muda a face A fisionomia é a mesma Caso os olhos abram Sei que é um dia de cada vez Mas as horas passam tão rápido Troco de pele mas mantenho Os fantasmas no armário Te entrego palavras ao invés de flores Depois te fotografo E eu sei que sentirei... saudades Mas eu sei que e um dia de cada vez Mas as horas passam tão rápido Troco de pele mas mantenho Os fantasmas no armário Te entrego palavras ao invés de flores Depois te fotografo E eu sei que sentirei... saudades Mas eu sei que e um dia de cada vez ♪ Às vezes a vida e um grão na uretra Dei com a cara nas pedras Além da matéria Dos olhos pra trás eu não minto Incorporo épocas Anoiteço Brilho Tem dia que nasce e nunca acaba Fumei um e revivi o passado Por que eu não paro? Assola-me a nevasca Mas eu fulguro, queimo No inferno, terceiro círculo Eu tenho fome Os cães latindo Gigantes bocas são meu horizonte Mas ouço a voz de Virgílio Tropeço na ponta do prédio Escondo as asas Mas distribuo as conquistas Aos seres de minha espécie Por gritante semelhança e inesgotável diferença Lhes digo o inevitável: Há quem colha o alimento e odeie os frutos Há quem morda o próprio coração, salivando Prestes as deferir o golpe Há também quem estenda as mãos no escuro Para depois abrir os olhos Os pés cravados no inferno A um passo do milagre Sei que tu vais lembrar de mim Teus olhos me dizem muito Meus gestos já apagaram velas Mas não sucumbi: visão noturna Tudo desbotou, mas e se eu colorir? Não me veras colidir nas pedras Contra o vento numa só flecha Braçadas no ar tipo um colibri Não me intimidam as quedas Braçadas no mar tipo fugitivo Nas mãos do destino O gatilho não emperra A morte me espera enquanto a vida brota Amanhecer Abrir os olhos A brancura dos cabelos advém das horas Conversas na cassete, o tempo sufoca No VHS décadas que ele borra Bagunça na kitnet, memória Cubículo que se expande O destino é agora