Era um espaço vazio Quase nada se encontrava ali Sentia fome e frio Uma fome que nunca senti Não existia presente e passado Cadê o futuro que eu construí? Olhava meus dedos ralados Segui no muro que nunca subi Andava com meus pés inchados Foi difícil pra mim prosseguir Caminhei por ruínas e escombros Alguma guerra aconteceu aqui E eu gritava pedindo ajuda Ecoava, mas eu desisti Vaguei, vaguei e ainda vago Numa trilha que começa o fim Paz é corpo Afinal, o que pode um corpo? O juízo judaico-cristão me silencia Mas é que eu falo demais Se eu tô com fome Falo que eu tô com fome Se eu tô com frio, falo que eu tô com frio E caio, caio, mas me levanto Mesmo sem me mover, ainda danço As veias pulsam O coração em processo de musicalização Eu não sei o que pode o corpo Células, tecidos, órgãos Os órgãos compõem a melodia para o sistema Sistema tegumentar, esquelético Muscular, cardiovascular Respiratório, digestório Urinário, nervoso, genital, capitalista E não consigo ouvir Passei toda a minha vida Sob a imersão dessa sinfonia