Vidas sem freio a rodar em rodas bambas Embriagadas sem receio e não abrandam Semicerrados olhos deixam De escolher rumo, só avançam No cardume os peixes dançam No negrume os feixes espantam Sem ver fundo não se cansam Prendo-me a ti E entendo o teu fim As escamas são duras, assemelham marfim Protegem do sal mas não sentes assim Ouvinte em surdina, o grupo a seguir É surdo o latido da trupe a investir Definho na tísica só para te ouvir E estranho para mim essa forma de vida Meu irmão, minha irmã Porque o tempo foge de mim Já vou tarde para amanhã E hoje nem chegou ao fim Foi por vontade de quem que eu vivo nesta ansiedade Todos os ais são meus, que é toda minha a saudade Se andei a viver rápido quem mediu a velocidade Fugir duma rotina fez de mim um ser fugaz Agora é que eu vi bem desse meu parapeito Eu vi que o fado a mim está-me a rasgar o peito Anda tudo a viver rápido no sentido errado Estranha forma de vida num sentido lato Fazes dos dias todos iguais não vives plenamente Escolhias viver rápido ou eternamente Quantos chegam ao fim da fila e depois lamentam Chegam ao fim da vida e ficam a pedir mais tempo Tu vais pedir mais quê Meu irmão, minha irmã Porque o tempo foge de mim Já vou tarde para amanhã E hoje nem chegou ao fim Expus num álbum, pintei traumas Ainda assim só ecoam as estrofes de tintas opacas Letras são parcas, são reflexo de águas paradas Não se bebem mais as palavras, aliteram onde não há mensagem Embalo a cabeça na escrita Já não embelezo contornos à forma de vida É meu cada traço que ouves na fita Sente, como tremo e bebo do receio Lembro, memórias foram treino e eu treino E então eu tento Semear por esse campo fora mesmo que o vento Tente-me afastar eu sei onde eu pertenço