Estou a tentar tirar Imagens da cabeça Que me enchem de tristeza Nunca me vou olhar Da mesma maneira Da mesma maneira A noite faz me sede E o dia afoga Encosta-me à parede Vou voltar a cair Da mesma maneira Da mesma maneira Porque eu sei de um lugar Onde eu posso ir sem nunca lá estar Porque eu sei de um lugar Se eu volto a cair é para me levantar Estou a tentar mudar Nuvens da cabeça Que chovem incerteza Nunca vos vou contar Toda a verdade Ou toda a vontade Porque eu sei de um lugar Onde eu posso ir sem nunca lá estar Porque eu sei de um lugar Se eu volto a cair é para me levantar E se provar do veneno Se estiver escuro e eu for escurecendo Desta vida que não dura E se provar do veneno Se estiver escuro e eu for escurecendo Se esta vida continua ♪ Cântico Negro de José Régio "Vem por aqui" Dizem-me alguns com olhos doces Estendendo-me os braços Eu olho-os com olhos lassos Cruzo os braços E não vou por ali A minha glória é essa: Criar meus próprios passos Que me dizeis vós? Não, não vou por aí Que me dizeis vós? Ninguém responde? Vem por aqui! Desenhar meus passos na areia inexplorada O mais que eu faço não vale nada Para eu derrubar os meus obstáculos Eu amo o longe e a miragem Amo os abismos as torrentes os desertos Como, pois sereis vós? Ide! Cânticos nos lábios! Tendes livros e tratados e filósofos e sábios Eu tenho a minha loucura! Levanto-a como um facho a arder na noite escura! Não sei por onde vou Não sei para onde vou Sei que não vou por aí!