Foi no sulco da viagem Já sem armas nem bagagem Nem os brazões da equipagem Foi ao voltar Pátria moratória No coração da história Que consumiste a glória Num jantar Foi como se Portugal P'ra seu bem e p'ra seu mal Andasse em busca dum final P'ra começar Ávida violência Reverso da inocência Sal da inconsciência Que há no mar Império tão pequenino De portulano caprino Bolsos de sina e de sino Em cada mão Pátria imaginária De concistência vária Afirmação diária Do teu não As malas dos portugueses São como os olhos das rezes Que se mastigam três vezes Em cada chão Cândida ignorância Grande desimportância Os frutos da errância Já lá vão Ai Senhora dos Navegantes me valei De África, do sal e do mar só eu sobrei Foi p'ra me encontrar que amanhã já me perdi Longe vai o tempo em que eu já não estou aqui Ai Senhora dos Talvez-Muitos-Mais-Sinais Socorrei estes desperdícios coloniais Foi na noite fria que o dia me cegou Inda agora fui, inda agora cá não estou Ai Senhora dos Esquecidos me lembrai O caminho que p'ra lá vem e p'ra cá vai Etecetera e tal, Portugal é nós no mar Inda agora vim e estou longe de chegar Ai Senhora dos meus Iguais que eu subtraí Foi pataca a mim e não foi pataca a ti Se é tão grande a alma na palma do meu ser Algum dia eu vou finalmente acontecer Por que não tentar outro ponto de vista? A história dos outros, quem a contará? Se qualquer colónia sem colonialista São os que já estavam lá Tentemos então ver a coisa ao contrário Do ponto de vista de quem não chegou Pois se eu fosse um preto chamado Zé Mário Eu não era quem eu sou Os navegadores chegaram cá a casa E foi tudo novo p'ra eles e p'ra mim A cruz e a espada e os olhos em brasa Por que me trataste assim? Não é culpa nossa se quem p'ra cá veio Não se incomodou ao saber do horror A história não olha a quem fica no meio E o que foi é de quem fôr