Querem me ver no chão Mas não sem dor Querem me ver no chão Mas não sem dor Com a manta ensanguentada Do perdão Entre a passividade escoltada E sagrada delação Ela acende a ponta E traga no rojão Não tenho medo do que possa vir Do fim do fundo E todo dia recuso trair Meu plano é outro Me preparo pro pior Terror Eu vou tirar a sua paz Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Meus amigos secretos São curiosamente competentes Sobretudo, no não ser São tantas as palavras Que eles inventaram pra classificar A temperatura agradável Num dia ameno de verão Os fluídos, a renda, nosso útero A necessidade de abortar Meu lábios, a saudade, o mar Quanto a mim Quero mais é apanhar Porque todo o resto foi pouco E o que quero não é desculpa, nem retratação Quero toda a vingança que nos cabe A vitória dos feridos A orgia da semântica O desacato à semiótica A juventude insubmissa No cataclismo último do capital Sou a garganta vermelha Que abre e fecha caminhos E são tantos os assédios Que o primeiro ato Não é poder falar Porque não se pode Ainda que se diga O primeiro é carregar Porque, como o rio doce Estão todos afundados Na lama da vida normal Matheusa, Marielle, vivemos A violência é cerne-signo Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais A baca cheia de dentes Morde a calçada No vão das pernas E a cinza suja na cara Vem do cigarro Preso entre dedos Que saem asaltando bancos Virando carros, tirando a limpo O peso, o preço da culpa O corpo marcado qu'inda carrego Aperto com as mãos em garra E afasto do escuro O rosto das teias A carne em febre na pista O suor engasgado Foge das veias Rasgando a nuca molhada Os olhos fechados De pulso lento Respiro o pó descascado Da poeira seca Que cai do teto, teto, teto Bate mais Bate mais A tinta escorrendo amarga Arde na empena Dos olhos pretos Vivos impressos Arruda fresca no peito Contra os canalhas De cano quente Que não dão trégua E encontro na madrugada Amparo no esgoto Que abastece a fábrica velha Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais