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Alcymar Monteiro - A Triste Partida lyrics

Artist: Alcymar Monteiro

album: Concerto para Gonzaga (feat. Orquestra Criança Cidadã)


Setembro passou com outubro e novembro
Já 'tamo em dezembro, meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco nordeste
Com medo da peste, da fome feroz
A 13 do mês, ele fez experiência
Perdeu sua crença nas pedra de sal
Mas noutra esperança com gosto se agarra
Pensando na barra do alegre Natal
Rompeu-se o Natal, porém, barra não veio
O Sol bem vermeio' nasceu muito além
Na boca da mata buzina a cigarra
Ninguém vê a barra pois barra não tem
Sem chuva na terra, descamba janeiro
Depois fevereiro e o mesmo verão
Entonce' o nortista, pensando consigo
Diz: Isso é castigo, não chove mais, não
Apela pra março que é o mês preferido
Do santo querido senhor São José
Mas nada de chuva, tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito o resto da fé
Agora, pensando, ele segue outra tria'
Chamando a famia', começa a dizer
Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo
Nós vamo a São Paulo viver ou morrer
Nós vamo a São Paulo, que a coisa tá feia
Por terras alheias nós vamos vagar
Se o nosso destino não for tão mesquinho
Pro mesmo cantinho nós torna a vortar'
E vende seu burro, jumento e o cavalo
'Inté mesmo o galo venderam também
Pois logo aparece feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro lhe compra o que tem
Em um caminhão ele joga a famia'
Chegou o triste dia, já vão viajar
A seca terrive' que tudo devora
Lhe bota pra fora da terra natal
O carro já corre no topo da serra
Olhando pra terra, seu berço, seu lar
Aquele nortista, partido de pena
De longe acena, adeus, meu lugar
No dia seguinte, já tudo enfadado
O carro embalado, veloz a correr
Tão triste, coitado, falando saudoso
Seu filho choroso exclama a dizer
De pena e saudade, papai, sei que morro
Meu pobre cachorro, quem dá de comer?
Já outro pergunta: Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato, Mimi vai morrer
A linda pequena, tremendo de medo
Mamãe, meus brinquedo, meu pé de fulô'
A minha roseira, coitada, ela seca
E a minha boneca também lá ficou
E assim vão deixando, com choro e gemido
Do berço querido, céu lindo e azul
O pai, pesaroso, nos fios' pensando
E o carro rodando na estrada do sul
Chegaram em São Paulo, sem cobre, quebrado
O pobre acanhado percura' um patrão
Só vê cara estranha de mais feia gente
Tudo é diferente do caro torrão
Trabalha dois ano, três ano e mais ano
E sempre nos prano' de um dia vortar'
Mas nunca ele pode, só vive devendo
E assim vai sofrendo, é sofrer sem parar
Se arguma' notícia das banda do norte
Tem ele por sorte o gosto de ouvir
Lhe bate no peito saudade de móio'
E as água nos zóio' começa a cair
Do mundo afastado, ali vive preso
Sofrendo desprezo, devendo ao patrão
O tempo rolando, vai dia e vem dia
E aquela famia' não vorta' mais, não
Distante da terra tão seca, mas boa
Exposto à garoa, à lama e o baú
Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo
Viver como escravo nas terras do sul

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