'Tô sempre escrevendo cartas que nunca vou mandar Pra amores secretos, revistas semanais e deputados federais Às vezes nunca sei se "as vezes" leva crase Às vezes nunca sei em que ponto acaba a frase Você sempre soube (eu não sabia) Toda frase acaba num riso de auto-ironia Você sempre soube (eu não sabia) Toda tarde acaba com melancolia E se eu escrevesse "sem" com "s", ou escrevesse "cem" com "c"? Por acaso faria alguma diferença? Que diferença faria? O que você faria no meu lugar Se tivesse pr'aonde ir e não tivesse que esperar? O que você faria se estivesse no meu lugar Se tivesse que fugir e não pudesse escapar? Você sempre soube que eu não conseguiria Quando a frase acaba tarde, tudo fica pr'outro dia Você sempre soube (eu não sabia) Toda tarde acaba em melancolia Às vezes não entendo minha própria letra Minha própria caneta me trai Às vezes não entendo o que você quer dizer quando fica calada Você sempre soube (eu não sabia) Quando a frase acaba o mundo silencia Às vezes não entendo onde você quer chegar quando fica parada É como ficar esperando cartas que nunca vão chegar Não vão chegar com "x" nem vão chegar com "ch" É como ficar esperando horas que custam a passar Enquanto ficamos parados, andando pra lá e pra cá É como ficar desesperado de tanto esperar Olhando pela janela até onde a vista alcançar É como ficar esperando cartas que nunca vão chegar É como ficar relendo velhas cartas até a vista cansar Você sempre soube (eu não sabia) Você sempre soube (eu não sabia) Você sempre soube (eu não sabia) Você sempre soube (eu não sabia) Você sempre... Eu não... Você sempre... Eu não sabia Eu não sabia