Por trás da pedra dura, pedra negra Para além destas encostas Um homem quando nasce é como a pedra E o Marão volta-lhe as costas Ai como é duro este centeio Com as altas montanhas pelo meio E um homem que é um pássaro sem lar Poderá por não ter chão, saltar Por detrás de Trás-os-Montes, é numa cama de vento Que se deitam horizontes nos lençóis do sofrimento Por detrás de Trás-os-Montes, um cobertor de geada Gela a garganta das fontes, mas o frio não sabe a nada Por detrás das mãos rugosas e da mágoa Para aquém desta grandeza Os homens transmontanos choram água Pelos olhos da tristeza Pois quando um homem chora á portuguesa A raiva é maior do que a pobreza E um homem que é um pássaro sem lar Poderá tendo mulher, saltar Por detrás de Trás-os-Montes a mulher é de granito Os seus braços duas pontes entre o ventre e o infinito Por detrás de Trás-os-Montes os homens são andarilhos Seus barcos arcos das pontes que ligam a terra aos filhos Por detrás da pedra negra, anda tanta, tanta fome Que um homem quando emigra, esquece até o próprio nome Seu nome está exilado, como se chama em Paris