Morre o mundo de fome, sobra comida na mesa Comida que com certeza, mataria a fome do mundo Menino barriga vazia, homem cabeça de vento Fartura de ganância, jejum de sentimento De não em não, a vida passa Pedindo a Deus um motivo pra sonhar Talvez o dia de amanhã, seja um dia de graça Mas de graça, só desgraça Diária, injusta e precisa Chuva pra quem dorme na praça Frio pra quem não tem camisa Liberdade pra quem trapaça Malandro vive de brisa Loucura é não querer ver, é passar indiferente É evitar um lamento, fingir que não é com você Enquanto um menino sofrer Esse mundo será de mentira Bicho-papão, Boitatá, Curupira Oi, Saci, medo maior é viver Alegria é invenção, mundo Lelê tá doente Tem mais de dez no colchão O frio, a fome indecente A cola grudada na mão, melhor ser inconsciente Aos olhos da multidão Que olha, não vê e não sente