Quem põe o pé na rua, manhãzinha Tropeça após um curto passo dado Na estafa que nos dá esta vidinha Que corre, sabe Deus para que lado. E logo é ver quem vai mais apressado Veloz, que o autocarro passa cheio E sempre o fim do mês chega atrasado Ao bolso que já está menos de meio. O homem do quiosque dos jornais Não fia nem noticias nem bons dias Que o pouco que hoje leu já é demais E há muito que não vai em lotarias. O crime vai mudando de estatuto Vagueia entre o temido e o banal Enquanto não nos toca ele é só furto Assim que nos ataca ele é fatal. Lá p'ro meio do dia em vez da sesta Almoça-se de pé e é se tanto Tentando que o minuto que nos resta Possa ainda esticar p'ra ir ao banco. Não sei se é uma bênção ou ironia Ouvir ao fim do dia alguém dizer A frase apressada e fugidia: "Então até amanha se Deus quiser"!